O que sua casa diz sobre você?

Traduzir o reflexo do espelho em manifestações que tornem tátil a representação de nós mesmos não é fácil. Mas a jornada é, talvez, umas das mais prazeirosas na vida. Nossas coleções sussurram a eloquência de nossa personalidade em construção e o design é uma rica ferramenta de descoberta. Multicultural, o Brasil tem uma grande vantagem: quando o assunto é design, somos poliglotas por natureza.

Uma das atividades mais importantes na vida de alguém é criar um lar. Ao longo dos anos, nos dedicamos a reunir peças afetivas e garimpar, no velho e no novo, objetos que encapsulem nossa identidade.

 

 

Mesmo que a casa não seja a mais suntuosa, depois de algum tempo entre hotéis, aviões e viagens, sentimos um desejo latente de retornar para nosso próprio lugar. Isso nada tem a ver com o valor dos objetos ou o apego material que eles suscitam.

Voltamos para casa para relembrar quem nós somos. Nosso lar tem a função de ancorar nossa memória e organizar nossas lembranças. Da criação de templos suntuosos greco-romanos à acolhida cristã na casa divinal, a arquitetura tornou-se uma linguagem capaz de compreender o imaginário humano e materializá-lo como uma poderosa ferramenta de memória.

Mesmo depois do renascimento propor uma revisão antropocêntrica, nossa casa segue, ainda hoje, figurando como um templo que exalta nossos próprios méritos e espíritos. Usamos objetos que expressam de maneira funcional valores e adjetivos que admiramos do mundo material para criar uma narrativa concisa sobre nós mesmos. Uma espécie de reforço, um repositório de sentidos que encoraja, relembra, consola…

A tarefa de planejar uma casa realiza em nós o desejo inconsciente de estabilizar e organizar os afetos ao nosso redor. A casa assume um papel de repositório da alma, um destino de tranquilidade inquestionável. É isso que reafirmamos quando repetimos: a beleza traz paz.