#PODCAST: Renata Piazzalunga

Renata Piazzalunga, da Fellicia, é arquiteta, mas foi depois de um tempo estudando ciências sociais na London School of Economics que essa empreendedora passou a ensinar, ela própria, empreendedorismo pra artesãos do nordeste. O resultado é um projeto de desenvolvimento sustentável a partir da economia colaborativa. Ou, simplificando, também dá pra dizer que foi um empurrãozinho de técnica pra um povo cheio de paixão e colaboração. Ela fala sobre nossa ancestralidade e como a gente nao tem nada de minimalista.

 

Que lugar no mundo inteiro um admirador de design precisa conhecer? 

O sertão do Brasil. Um terreno com sol escaldante o dia inteiro, você olha para a flora, para a fauna, aparentemente tudo é seco. De repente, cai uma gota de chuva e, da noite para o dia ,tudo se transforma.

 

Um clássico de outro brasileiro que você admira? 

A Chaise Rio, do Oscar Niemayer.

 

Um livro? 

A Fenomenologia da percepção. Foi um livro que me fez chorar. Não pela questão literária, mas pela densidade.

 

Qual é o seu lugar preferido no Brasil? 

A minha casa, em São Paulo. Não vou ser nada original. A minha casa tem três coisas maravilhosas: aconchego, acolhimento e meu cachorro, sempre me esperando.

 

Um perfil de Instagram que você gosta muito? 

Descobri recentemente o da @patekphilippe. Eles conseguiram fazer a forma de uma tela de cinema, todo com ilustração, uma composição de design continua. É lindo.

 

Você tem alguma mania para começar a trabalhar de manhã?

Acordar sempre antes e ter o prazer de permanecer um tempo na cama.

 

 

Os anos dedicados à vida acadêmica deram lugar à coragem de tentar mudar a realidade das pessoas de outro lugar, diferente das salas de aulas e pesquisas docentes. A arquiteta Renata Piazzalunga, com um extenso currículo, encontrou na Fellicia uma maneira de fomentar a cultura local no interior do Sergipe e, também, de ajudar pequenos vilarejos a se estabelecer economicamente de forma coletiva e sustentável.

Desde cedo, Renata sempre esteve ligada ao mundo das artes. Aulas de música e pintura eram parte da rotina na infância e juventude, até entrar na faculdade de arquitetura. Sua primeira referência foi a arquiteta Zaha Hadid, importante nome da corrente desconstrutivista. Com a visão utópica de Hadid, Renata concluiu que o seu sentido de vida  é fazer sempre o que se acredita, mesmo que não faça sentido em um primeiro momento para os outros, mas tenha valor para si.

Isso serviu não apenas para a vida acadêmica, mas também para a pessoal. Após estudar ciências sociais na London School of Economics, Renata decidiu dar um novo rumo à sua história, decidida a redirecionar a carreira e usar o conhecimento adquirido pra ajudar a redesenhar vidas.

Assim nasceu a Fellicia, uma marca que carrega na sua matriz o empreendedorismo social, algo que  Renata considera fundamental para o bem do negócio. “Quando eu pensei na Fellicia como um negócio, um empreendedorismo social, eu pensei em todo um ciclo de inovação estabelecido, que começava na pesquisa, ia passava pela cadeia produtiva, da qualificação dos artesãos, e também de dar possibilidades deles se desenvolverem economicamente”, aponta.

Hoje, além da remuneração pelas horas dedicadas às peças, há também o pagamento pela venda dos objetos, garantido mais retorno para quem produz. Um ponto curioso na história do empreendimento é a origem do nome. Felícia é uma das primeiras artesãs que Renata conheceu, símbolo de generosidade e inspiração. Foi graças ao projeto da arquiteta que ela conseguiu, aos 52 anos, realizar o sonho de ser artesã. 

Para Renata, as luminárias em fibra são as peças mais significativas da história do projeto. Tramadas em fibras de ouricuri, junco e dendê, as peças contam com estrutura metálica e  cestaria, tudo feito à mão. Nas versões piso, mesa ou pendente, integram o acervo da Casa de Alessa e exprimem a simplicidade e nobreza da produção brasileira, espalhando também a beleza do sertão sergipano.