O barro arrancado do barranco num dia molhado. O cheiro do giz de cera que pinga queimado pela vela virando desenho. A textura da polpa do primeiro papel experimental. Conhecer as qualidades da matéria e entender o mundo inteiro através das coisas é a linguagem que Heloisa Galvão imprime em seu trabalho.
Ela ganhou intimidade com a terra no estúdio em Vila Velha, Espírito Santo, criando potes, muitos potes – esse container mais simples e primitivo. Há 15 anos conheceu a porcelana, consolidando o diálogo com as coisas na mais absoluta potência de acontecimento.
Durante o mestrado em poéticas visuais na Escola de Comunicações e Artes – USP, desenvolveu uma porcelana translúcida que foi meio para a construção de um conjunto de obras que partem dessa matéria densa, resistente, que tende ao peso e explora seus limites, buscando leveza e quase imaterialidade.
Em 2011, de volta ao Brasil depois da imersão em cerâmica em Boston, desenvolveu a “série líquida”, movida outra vez pela busca de um novo suporte para a fotografia. A partir desse processo, passou a trabalhar com a porcelana líquida. Experimentando formas, desenvolvendo cores, refletindo sobre o vazio, leveza e peso, movimento e repouso, num observar constante da natureza e de seu devir. O trabalho formado a partir do comportamento da matéria e sua transitoriedade.